A internet induz a erros
Gosto de
postar-me na pele de um jornalista. Sento-me à máquina, sirvo-me um cafezinho,
folheio displicentemente algumas revistas, balanço a cabeça como se estivesse
aprovando ou reprovando. Com a caneta sublinho algumas frases, circulo
asperamente algum dos títulos. Esboço às vezes breve sorriso, outras vezes
franzo a testa como sinal de estupefação.
Levanto, chego
na janela, olho o céu como se esperasse dele uma resposta, ou uma pergunta.
Olha a rua e busco nas pessoas passando, objeções ou satisfações. Ligo a
televisão, com o controle nas mãos passeio por diversos canais, encontro filmes
e desenhos; encontro homens e mulheres ensinando receitas que provavelmente
donas de casa não aproveitarão no seu dia a dia; encontro partidas de futebol
de antes de ontem que passou ontem; padres e pastores proliferam canais falando
de Deus e pasmo vejo Deus de várias formas (não pensei que Deus tinha tantas
formas cristãs).
Volto para minha
mesa com a importância de um jornalista que não sou, mas pondo-me, estou.
Arrumo helenicamente meus livros, minhas revistas e meus jornais. Alguns, vejo,
datam manchete do ano passado, algumas revistas até amarelaram suas folhas e um
dos personagens citados acaba de ingressar no Exército. Para mim, minhas
relíquias não têm data e nem têm idade. Devem pensar assim jornalistas
importantes e famosos. Jornalistas que assinam colunas nos grandes jornais e
nas grandes revistas, que palestram nos cursos de jornalismos para futuros
jornalistas que serão o que eu não sou e agora me fantasio de ser...
Jornalista!
E começo a
dedilhar nas teclas de minha máquina, quando falo máquina, não me refiro explicitamente
àquela de datilografar, mas, desta que me possibilita escrever sem papel e sem
caneta, somente usando as pontas de alguns dos meus dedos. E ponho-me
jornalista e como jornalista escrevo. Escrevo e publico e aí acontece a indução
aos erros.
Escrevo o que
quero, escrevo o que penso, escrevo o que imagino e publico. O meu público ao
ler-me não se preocupa em pesquisar se é verdade o que escrevi, se é ficção de
uma cabeça perseguidora, se é coisa de quem não tem o que fazer. Escrevi que as
galinhas do planeta Mercúrio estão contaminadas e foram servidas na merenda
escolar em um dos municípios do Rio de Janeiro. Para destacar crio uma manchete
bombástica “Galinhas contaminadas de Mercúrio servidas a estudantes no Rio de
Janeiro”. A desgraça está feita. É um tal de compartilhar, compartilhar...
Daqui a pouco minha manchete está sendo discutida pelo Ministério da
Agricultura, pela Polícia Federal e o presidente da republica aplaude, pois,
tiraram os focos de outros problemas que pesavam em seus ombros.
E antes de por
um ponto final na minha matéria jornalística, repasso a ortografia, as
concordâncias e redundâncias, esboço um breve sorriso de satisfação, franzo um
pouco a testa demonstrando preocupação e observo a mim...
“Como é fácil,
através da internet induzir ao erro”.
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